"Deus para mim, é a natureza"
Burle Marx
Roberto Burle Marx, se vivo fosse, completaria 112 anos no dia 4 de agosto de 2021.
A cidade de Recife, através do Comitê Burle Marx, formado por órgãos da Prefeitura, Secretaria do Meio Ambiente, Laboratório de Paisagem da UFPE, Conselho de Arquitetos do Brasil-CAU, IPHAN e Fundarpe, dedica o mês de agosto, a esse artista plástico e paisagista, cuja obra deixou marcas inconfundíveis através do legado das diversas praças que aqui realizou.
Muito se tem falado sobre Burle Marx, mas vale ressaltar sua arguta percepção desde a década de 60 sobre a necessidade de cuidar das florestas, habitat de diversas plantas por ele identificadas e do meio ambiente como um todo, no que foi um ferrenho militante.
Beth Araruna
Talvez tenha sido Gastão de Holanda, ao analisar os arranjos florais que decoravam as festas de Burle Marx na sua casa de Guaratiba, quem conseguiu encontrar a chave explicativa de seu fazer artístico peculiar: para Burle Marx, “pintar e esculpir” eram “ato simples de escolher, estender a mão ao chão e colher uma forma rara”. Nos arranjos florais, como na pintura ou na escultura, o que o artista fazia era colher formas preexistentes, arranjá-las em conjuntos significativos, escolher – gestos que identificam criação artística e prática colecionista.
Gastão de Holanda
Arquiteto e parceiro amigo e advogado, jornalista, professor, poeta, contista, editor e designer gráfico.
Roberto Burle Marx é um caso singular. Em plena era espacial e atômica, a pessoa dele e o seu mundo, conquanto falem linguagem contemporânea, confinam com a Renascença. A sua vida é um permanente processo de pesquisa a criação. A obra do botânico, do jardineiro, do paisagista se alimenta da obra do artista plástico, do desenhista, do pintor, e vice-versa, num continuo vaivém.
Lucio Costa
O desenho é a mais espiritual das artes visuais. Com traços e manchas, usando apenas o preto da tinta e o branco do papel o desenhista representa o que existe latente na sua imaginação. E a imaginação de Burle Marx é maravilhosa, sua escrita é belíssima. Não é a escrita do caligrafo profissional, maneirista e convencional, mas a escrita nervosa em que a mão não manda mas obedece ao homem no ato de criar. Como a sua imaginação é versátil e sem formas estereotipadas, o seu traço é rico e sem modismos nem vícios. Os desenhos expostos representam formas irreais e atmosferas mágicas. São pequenos jardins portáteis em preto e branco, nos quais o espectador deve penetrar, como Alice, para apreciar devidamente esse “país das maravilhas” de um grande artista.
Carlos Leão
Arquiteto e parceiro
Todas as áreas são importantes para mim: paisagismo, tapeçaria, design de joias, desenho, pintura, botânica. Uso todos como um poeta buscando palavras. E é com isso que me esforço mais. Eu não vou fazer uma pintura que é um jardim. Sem dúvida a pintura e as outras expressões artísticas influenciaram todo meu conceito de arte. Mas eu tento sempre evitar fórmulas. Eu odeio fórmulas. Eu amo os princípios.
Já decidi o lugar da minha sepultura: no sítio, debaixo de uma árvore frondosa. Quero me transformar em árvore, na qual cada dedo terá uma floração violenta e sentirei o vento, a tempestade e os relâmpagos a me iluminar. Assim minha perpetuação se fará.
Creio que é tempo de o Brasil aprender a amar a natureza – as florestas, os rios, os lagos, os bichos, os pássaros. Creio que é preciso reformular nosso conceito de patriotismo. Patriotismo, para mim, é proteger o nosso patrimônio artístico, cultural, e a terra, que nos dá tudo isso.
Burle Marx
Burle Marx - Os Primeiros Jardins
Roberto Burle Marx nasceu em 04 de agosto de 1909, em São Paulo, pai alemão, mãe pernambucana. Aos 19 anos, partiu em viagem de estudos para Alemanha. Frequentando o Jardim Botânico de Dahlen, decidiu aprofundar seus estudos sobre arte e paisagismo.



























